São registrados grandes incêndios nas TIs Sete de Setembro, Uru-Eu-Wau-Wau, Roosevelt, Aripuanã, Igarapé Lage e Pacaás Novas.

As imagens do fogo na Terra Indígena Sete de Setembro chocam, mas é a cena que tem se repetido no estado de Rondônia, sobretudo em terras indígenas e unidades de conservação. No estado, 17 terras indígenas registraram focos de incêndio em seu interior.

Na TI Sete de Setembro foram registrados focos de incêndio em diversos pontos. De acordo com o Painel do Fogo neste domingo, 22/09/24, ao sul do território haviam 4 eventos de fogo ativos, a no limite leste do território haviam 2 eventos e a oeste mais 2, sendo estes os maiores. Ao todo, o evento de fogo impactou 9.745,14 hectares do território, sendo registrados 412 focos em 57 dias de detecção contínua de fogo ativo.

O fogo tem avançado sobre casas e roçados, destruindo áreas de floresta, de uso comunal e cultivo da comunidade indígena. O fogo destrói a vegetação, mas também a biodiversidade do solo, provocando uma perda de nutrição do solo que dificultada a recuperação natural.

Há indícios que o fogo é criminoso, estimulado por grandes fazendeiros para a abertura de pastagens e estimulando o desmatamento dentro da TI.

A Brigada Paiter Surui tem enfrentado o fogo, no entanto tem necessidade de apoio: há pouco efetivo (são pelo menos 15 brigadistas para todo o território) e poucos equipamentos para a quantidade de focos que tem ocorrido. Além disso, há dificuldades logísticas, a brigada tem uma única viatura para o deslocamento e necessitam acessar múltiplos pontos e pontos distantes, para isso os brigadistas tem usado os próprios automóveis ou de instituições parceiras para deslocarem para o combate ao fogo.

Para além do fogo e da destruição criminosa de seu território, a brigada também tem trabalhado sobre ameaças. Para o acesso a algumas áreas da TI que estão com focos, a brigada necessita passar no interior de fazendas, ao fazer isso, foram ameaçados e necessitaram se desmobilizar. No episódio foi preciso mudar o acampamento para áreas mais distantes e solicitar apoio da Força Nacional.

Existe ainda a indicação de que mesmo com o início de algumas chuvas, pode ocorrer mais incêndios no interior da TI, devido ao manejo inadequado de pastagens, onde as fazendas no entorno, visando renovar seus pastos, ateiam fogo e deixam que avance para o interior da TI. O objetivo é forçar a fragilização da floresta e a abertura de pastagens.

O avanço do fogo

Na TI Uru-Eu-Wau-Wau os eventos de fogo concentram-se nos limites norte da TI, inclusive em área sobreposta ao Parque Nacional de Pacaás Novos. Há três grandes vetores de eventos de fogo, o primeiro vindo da região de Campo Novo de Rondônia que queima áreas recentemente loteadas e avança para o interior do território, do fogo vindo do PE de Guajará-Mirim e alguns eventos de fogo no interior do território. No interior do território, foram detectados 3.514 focos de fogo pelo Painel do Fogo, sendo que a 69 dias são continuamente registrados focos. Ao todo 16.796,49 hectares estão sendo impactados pelo evento de fogo ativo no interior da TI, fora os vetores de fogo externos ao território que também estão avançando para seu interior.

O fogo no norte da TI tem ocorrido em áreas de recente invasão ou que foram invadidas mas passaram por processo de desintrusão. Além disso, há relatos da fiscalização que após o controle de focos de fogo no interior da TI, os invasores tem reativado o fogo, dificultando as ações de combate.

A TI Roosevelt enfrenta grandes eventos de fogo que avançam sobre o território tendo origem nas regiões de Flor da Serra e Boa Vista do Pacarana, distritos de Espigão D’Oeste. Foram detectados no interior da TI 1.353 focos de fogo, que já duram 54 dias. Ao todo 44.199,27 hectares do território estão sendo impactados diretamente pelo fogo.

A situação do Parque Indígena Aripuanã, TI vizinha à Roosevelt não é diferente. Até então foram registrados 2.228 focos de fogo, pelo período contínuo de 51 dias. No interior do território, 79.151,02 hectares já foram atingidos pelos eventos de fogo. Os focos vem da áreas rurais de Espigão d’Oeste e Pimenta Bueno e da TI Roosevelt. Na porção leste do território, já no estado do Mato Grosso, um grande evento de fogo é registrado próximo a PCH Juína.

Na TI Igarapé Lage os eventos de fogo totalizam uma área de 2.244,54 hectares atingidos. Foram detectados 91 focos contínuos em 10 dias. Estes focos tem origem em propriedades rurais entre Palmeiras e Nova Dimensão, distritos de Nova Mamoré. Além disso, no interior da TI há eventos detectados em áreas que foram alvo de invasões para grilagem e roubo de madeira. Outra ameaça é que o fogo que consome o PE de Guajará-Mirim avance para o interior da TI Igarapé Lage, sua vizinha.

Na TI Pacaás Novas, o fogo queima a 18 dias. Foram registrados 242 focos de incêndio e uma área de 10.947,09 hectares do território havia sido impactada diretamente por este fogo até o domingo, 22/09. Existem três grandes frentes de fogo ativas, uma ao sul do território as margens do Rio Sotério, no entorno de aldeias e roçados. Ao oeste, próxima a comunidade de Deolinda e a leste, nos limites com a TI Rio Negro Ocaia, próximo as margens do Rio Pacaás Novos.

O quadro só não é mais amplo na TI Pacaás Novas por conta do trabalho da brigada comunitária indígena. A brigada é formada e gerida pelos indígenas da comunidade e conta com materiais de trabalho doados por outras organizações ou adquiridos por meios próprios.

Outras TIs que apresentam eventos de fogo

O Painel do Fogo também relata eventos de fogo nas TIs Kaxarari, Igarapé Ribeirão, Karipuna, Tubarão Latunde, Massaco, Rio Mequens, Rio Guaporé, Sagarana, Igarapé Lourdes, Rio Branco e Rio Negro Ocaia.
As únicas TIs do estado que não apresentam evento de fogo ativo no dia 22/09, de acordo com o Painel do Fogo, foram as TIs Karitiana, Kwazá do Rio São Pedro, Uty-Xunaty, Tanaru e Rio Omerê.

Ao todo são mais de 10 mil detecções de focos de calor reportadas pelo Painel do Fogo até 22/09, totalizando uma área de 176.756,19 hectares impactadas diretamente pelo fogo. Essa área é maior que a área dos municípios de Castanheiras e Novo Horizonte do Oeste somados. Na data analisada, 28% de toda a área impactada pelo fogo no estado de Rondônia foi em terras indígenas.

*A lista de Terras Indígenas utilizada não leva em conta o seu status oficial de reconhecimento.